Eugénio de Andrade - Não Canto Porque Sonho
Não canto porque sonho
Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
O teu sorriso puro,
A tua graça animal.
Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
somente um bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinha.
Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
Por vê-los nus e suados.
Eugénio de Andrade (Poeta português, 1923-2005), in «As Mãos e os Frutos»
Foto por Elena & Vitaly Vasilieva
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