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sexta-feira, janeiro 18, 2008

Leila Míccolis - Ponto de vista



Eu não tenho vergonha
de dizer palavrões,
de sentir secreções
(vaginais ou anais).
As mentiras usuais
que nos fodem sutilmente
essas sim são imorais,
essas sim são indecentes



Leila Míccolis (Poetisa Brasileira, 1947- )

domingo, setembro 16, 2007

Luz Lescure - Oração



Oxalá que a dúvida
me assalte sempre
para não cair na tentação
de apropriar-me desta, daquela
ou de qualquer verdade;
para manter-me incrédula,
insegura e livre,
livre do pecado
da certeza total.




Luz Lescure (Poetisa do Panamá, 1951- )

Tradução: Silvio Persivo



Oración




Ojalá que la duda
me asalte siempre
para no caer en la tentación
de adueñarme de esta, aquella
o cualquier verdad;
para mantenerme incrédula,
insegura y libre,
libre del pecado
de la certidumbre total.




Luz Lescure (Poetisa do Panamá, 1951- )

domingo, abril 08, 2007

Palavras que me tocam...em Versão Áudio



Caros amigos,

esta semana trago-vos uma notícia muito especial para mim.

Faço este blog com muito gosto e carinho. Como tal, fico sempre muito orgulhosa quando recebo um comentário e um reconhecimento vosso. Esta semana recebi um reconhecimento enorme. O Luís Gaspar autor do Estúdio Raposa, um audioblog sobre poesia e literatura, fez um programa sobre a Mentira com alguns dos poemas que publiquei na semana passada.

Assim sendo, tenho orgulho de vos apresentar algumas das palavras que me tocam em versão áudio. Oiçam aqui o Palavras de Ouro sobre a mentira.

Ao Luís, agradeço mais uma vez a gentileza e o destaque.


Um abraço.

Susana B.

domingo, abril 01, 2007

Pecdshs - Dia 1 d'Abril



Neste dia das mentiras
Em que todos se tentam enganar
Com nada do que dizem te admiras
A desconfiança a tentar decifrar.
No meio de tanta treta
Há um fundo de verdade
O célebre dia da peta
É todos os dias uma realidade.
Este dia que há muito existe
Para se dizerem todas as falsidades
Mais um da mentira que persiste
Ou instituir o dia das verdades.
Neste país de enganos e teimosia
Prevalece a inveja e estupidez
A mentira neste “santo” dia
É um incentivo à safardez.



Pecdshs

Affonso Romano de Sant'Anna - A implosão da mentira



Fragmento 1

Mentiram-me.Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.



Fragmento 2

Evidente/mente a crer
nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo
permanente.

Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.
Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o sangue quente. Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre.Mentem
fabulosa/mente como o caçador que quer passar
gato por lebre.E nessa trilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.
E assim cada qual
mente industrial?mente,
mente partidária?mente,
mente incivil?mente,
mente tropical?mente,
mente incontinente?mente,
mente hereditária?mente,
mente, mente, mente.
E de tanto mentir tão brava/mente
constroem um país
de mentira
—diária/mente.




Fragmento 3


Mentem no passado. E no presente
passam a mentira a limpo. E no futuro
mentem novamente.
Mentem fazendo o sol girar
em torno à terra medieval/mente.
Por isto, desta vez, não é Galileu
quem mente.
mas o tribunal que o julga
herege/mente.
Mentem como se Colombo partindo
do Ocidente para o Oriente
pudesse descobrir de mentira
um continente.

Mentem desde Cabral, em calmaria,
viajando pelo avesso, iludindo a corrente
em curso, transformando a história do país
num acidente de percurso.



Fragmento 4

Tanta mentira assim industriada
me faz partir para o deserto
penitente/mente, ou me exilar
com Mozart musical/mente em harpas
e oboés, como um solista vegetal
que absorve a vida indiferente.

Penso nos animais que nunca mentem.
mesmo se têm um caçador à sua frente.
Penso nos pássaros
cuja verdade do canto nos toca
matinalmente.
Penso nas flores
cuja verdade das cores escorre no mel
silvestremente.

Penso no sol que morre diariamente
jorrando luz, embora
tenha a noite pela frente.



Fragmento 5

Página branca onde escrevo. Único espaço
de verdade que me resta. Onde transcrevo
o arroubo, a esperança, e onde tarde
ou cedo deposito meu espanto e medo.
Para tanta mentira só mesmo um poema
explosivo-conotativo
onde o advérbio e o adjetivo não mentem
ao substantivo
e a rima rebenta a frase
numa explosão da verdade.

E a mentira repulsiva
se não explode pra fora
pra dentro explode
implosiva.



Affonso Romano de Sant'Anna (Poeta e Jornalista Brasileiro, 1937- )

Fernando Pessoa - Se tudo o que há é mentira



Se tudo o que há é mentira,
É mentira tudo o que há,
De nada nada se tira,
A nada nada se dá.

Se tanto faz que eu suponha
Uma coisa ou não com fé,
Suponho-a se ela é risonha,
Se não é, suponho que é.

Que o grande jeito da vida
É pôr a vida com jeito.
Fana a rosa não colhida
Como a rosa posta ao peito.

Mais vale é o mais valer,
Que o resto ortigas o cobrem
E só se cumpra o dever
Para que as palavras sobrem.



Fernando Pessoa (Poeta Português, 1988-1935)

Márcia Maia - Sou mera ilusão de ótica



Foto: Zahar Dudnikov



Sou mera ilusão de ótica
imagem virtual
formada atrás do espelho
em que te olhas.
Tu não me vês nunca.
Às vezes me adivinhas
pressentes
no teu quarto
no teu corpo
etérea.
E eu rio da
tua cara de bobo
olhando as tuas mãos vazias
que eu afago
e a tua boca
que eu beijo
todo dia
sem que me vejas.



Márcia Maia (Poetisa Brasileira)

Cintia Barreto - Fale Mentiras



Foto: Torsten Brandt



Desarme suas queixas.
Seja forte!
Sufoque os medos
adjacentes.
Revele a mentira
verossímil
dos pensamentos
mórbidos.

Experimente o gosto
do seu gozo!
Sinta a carne trêmula
sob seu nervo teso.
Mostre seu sorriso
agridoce que saliva
veneno e fale...
Fale mentiras!!!

Preciso ouvir suas
verdadeiras mentiras...
para desvendar...
seu gosto.



Cintia Barreto (Poetisa Brasileira)

Maria do Rosário Pedreira - Foi sempre tão incerto o caminho até ti



Foto: Claustrophobia, de Armindo Dias



Foi sempre tão incerto o caminho até ti:
tantos meses de pedras e de espinhos, de
maus presságios, de ramos que rasgavam a
carne como forquilhas, de vozes que me
diziam que não valia a pena continuar, que
o teu olhar era já uma mentira; e o meu

coração sempre tão surdo para tudo isso,
sempre a gritar outra coisa mais alto para
que as pernas não pudessem recordar as
suas feridas, para que os pés ignorassem
as penas da viagem e avançassem todos
os dias mais um pouco, esse pouco que
era tudo para te alcançar. Foi por isso que,

ao contrário de ti, não quis dormir nessa
noite: os teus beijos ainda estavam todos
na minha boca e o desenho das tuas mãos
na minha pele. Eu sabia que adormecer

era deixar de sentir, e não queria perder os
teus gestos no meu corpo um segundo que
fosse. Então sentei-me na cama a ver-te
dormir, e sorri como nunca sorrira antes
dessa noite, sorri tanto. Mas tu falaste de
repente do meio do teu sono, estendeste o
braço na minha direcção e chamaste baixinho.
Chamaste duas vezes. Ou três. E sempre tão
baixinho. Mas nenhuma foi pelo meu nome.



Maria do Rosário Pedreira (Escritora e poetisa portuguesa, 1959- )

Carlos Drummond de Andrade - Não Passou



Passou?
Minúsculas eternidades
deglutidas por mínimos relógios
ressoam na mente cavernosa.

Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.
A mão- a tua mão, nossas mãos-
rugosas, têm o antigo calor
de quando éramos vivos. Éramos?

Hoje somos mais vivos do que nunca.
Mentira, estarmos sós.
Nada, que eu sinta, passa realmente.
É tudo ilusão de ter passado.



Carlos Drummond de Andrade (Poeta Brasileiro, 1902-1987)

António Maga - Cactos



Foto: Flight in Dream, de Yuri Bonder


o meu corpo recusa-se a viver.
este corpo só brinca.
brinca à vidinha
patética
das recusas sorridentes.
brinca às
brincadeiras tristes
de corpos
entrelaçados,
de gemidos
simulados.

este corpo
só brinca
às palavras vendidas
de mentiras
de mentiras
de mentiras.

este corpo
só brinca à vidinha
de ninfeta
no deserto:
o clítoris em chama
e à volta só há cactos.



António Maga

Bjork - Play Dead



Foto de Matjaz Slanic



darling stop confusing me
with your wishful thinking
hopeful enbraces
don't you understand?
i have to go through this
i belong to here where
no-one cares and no-one loves
no light no air to live in
a place called hate
the city of fear

i play dead
it stops the hurting
i play dead
and hurting stops

it's sometimes just like sleeping
curling up inside my private tortures
i nestle into pain
hug suffering
caress every ache

i play dead
it stops the hurting



Bjork (Cantora e letrista Islandesa, 1965- )