Mostrar mensagens com a etiqueta Albano Martins. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Albano Martins. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Albano Martins - Espaço disponível



Deito-me no teu corpo
como se fosses
a minha última cama
no meu quarto de hóspede dos dias.
Deito-me e velo
a criança lúcida
que dorme reclinada
na orla marítima do silêncio.
Ali onde o tempo
se anula e renova
na substância palpável
dum gesto ou dum olhar
colhidos sobre a água
construo a minha casa,
habito o espaço inteiro
disponível para a vida,
necessário para a morte.




Albano Martins (Poeta português)

domingo, janeiro 28, 2007

Albano Martins - Tu choravas e eu ia apagando






Tu choravas e eu ia apagando
com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas
- riscos na areia mole e quente do teu rosto.
Choravas como quem se procura.
E eu descobria mundos, inventava nomes,
enquanto ia espremendo com as mãos
o meu sangue todo no teu sangue.

Não sei se o mundo existia e nós
existiamos realmente.
Sei que tudo estava suspenso,
esperando não sei que grave acontecimento,
e que milhares de insectos paravam e
zumbiam nos meus sentidos.
Só a minha boca era uma abelha inquieta
percorrendo e picando o teu corpo de beijos.

Depois só dei pela manhã,
a manhã atrevida,
entrando devagar, muito devagar e
acordando-me.
Desviei os meus olhos para ti:
ao longo do teu corpo morriam as estrelas.
A noite partira. E, lentamente,
o sol rompeu no céu da tua boca.




Albano Martins (Poeta português, 1930- )