Ângela Santos - Paradoxo
Na
inteireza das coisas simples,
no desvario urgente que nos leva adiante,
na coragem que exige, cada dia que começa,
no absurdo que grita pela boca da fome,
na festa que reina na nossa vontade cumprida
nesse estar além da pobreza de um quotidiano que fere,
no seio de cada minúsculo acto movido pelo coração
nas avenidas largas e solitárias percorridas,
na verdade e na força do amor
no paradoxo do belo e do bruto que nossa alma abriga
no gesto que em nós acorda a humana face do outro,
na mão que semeia, modela, acaricia, estrangula, esventra,
na viagem que faz o caminho sob o nosso andar
na alegria gerada em cada dia que nasce e nos devolve à vida
e até no silencio ante o meu questionar
eu pressinto um indecifrável sentido.
Por isso sigo, sem muito querer saber
Por isso me agito se oiço o chamado
por isso me entrego à vida e a bendigo
por isso espero se de espera é o momento
por isso me inquieto se o coração diz "Vai!" e eu me
detenho
vivo, sinto, espelho a dualidade viva de tudo o que é……
E além do mal e do bem me quedo,
olho o infinito e sinto-me poeira de estrelas com alma
e no chão que piso, oiço o pulsar do meu ser,
no riacho correndo entre sulcos, é o meu sangue que vibra
e no prumo de uma velha árvore
o sentido da dignidade eu vivo
Se tudo está em mim
parte de quê, enfim, sou ?
Ângela Santos
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