domingo, fevereiro 04, 2007

Carlos Frydman - Ansiedade



Foto de Rene Asmussen



Tenho sede de palavras quentes
desgarradas dos limites formais.
Tenho fome da pureza
que a "diplomacia" da vida roubou.
Tenho saudade dos luares
que a simetria da cidade retalhou.

Sinto a tristeza e o frio dos cimentos
que fizeram dos homens aves sem vôo;
das crianças, criaturas sem jardins;
dos decénios, estações sem primaveras,
impingindo um formalismo e limitando
os seres em si.

Tenho a premência coletiva
de impor os sonhos à vida;
e, do artifício de viver,
fazer da vida a delícia
que as artes vivas
procuram viver.

Tenho ansiedade
de não ficar ansiando
o que estou buscando,
na busca que busco,
antes que a busca
me possa tragar.



Carlos Frydman (Poeta brasileiro, nascido na Polónia, 1924- )

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