domingo, março 11, 2007

Florbela Espanca - Supremo enleio



Foto: autor desconhecido.



Quanta mulher no teu passado, quanta!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa?
Se delas veio o sonho que conforta,
A sua vinda foi três vezes santa!

Erva do chão que a mão
de Deus levanta,
Folhas murchas de rojo à tua porta...
Quando eu for uma pobre coisa morta,

Quanta mulher ainda! Quanta! Quanta!
Mas eu sou a manhã: apago estrelas!
Hás de ver-me, beijar-me em todas elas,

Mesmo na boca da que for mais linda!
E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás de encontrar ainda...



Florbela Espanca (Poetisa portuguesa, 1894-1930)

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