domingo, julho 08, 2007

Antero de Quental - A sulamita



Pintura: Sleeping beauty, Michael Garmash.



Ego dormio, et cor meum vigilat.
Cântico dos Cânticos


Quem anda lá fora, pela vinha,
Na sombra do luar meio encoberto,
Subtil nos passos e espreitando incerto,
Com brando respirar de criancinha?

Um sonho me acordou... não sei que tinha...
Pareceu-me senti-lo aqui tão perto...
Seja alta noite, seja num deserto,
Quem ama até em sonhos adivinha...

Moças da minha terra, ao meu amado
Correi, dizei-lhe que eu dormia agora,
Mas que pode ir contente e descansado,

Pois se tão cedo adormeci, conforme
É meu costume, olhai, dormia embora,
Porque o meu coração é que não dorme...



Antero de Quental (Poeta português. Ponta Delgada, 1842-1891)



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