Natália Correia - Nictofagia
Se eu pudesse beber-te, ó noite,
Até encontrar o teu gosto,
Ou mordendo a ponta do açoite
Da tua treva no meu rosto,
Achasse a planície de lume
De que és uma aresta de estrelas
E sonhando sem peso e volume
Fosse um sonho de chão a tecê-las
E na praia de um trilo sem flauta,
Instrumento das harpas do fundo
Duma água escorrida da pauta
Da manhã mais antiga do mundo,
Me estendesses, ó noite florida
Das sementes que trazes no punho,
Uma adolescência impelida
Pelo arco das brisas de Junho!
Natália Correia (Poetisa portuguesa, 1923-1993)
1 comentário:
dá vontade de beber a noite...tal é a intensidade das palavras de Natália Correia...
sempre o fundo, o profundo, o intenso da sua poesia. a fé e a beleza
bela fotografia, belo instante este
até breve, amiga
m
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