domingo, novembro 11, 2007

David Mourão-Ferreira - Canção primaveril



Foto: Alex Krivtov



Anda no ar a excitação
de seios súbito exibidos
à turva luz de um alçapão,
por onde os corpos rolarão,
mordidos!

Ou é um deus, ou foi a Morte
que nos vestiu este torpor;
e a Primavera é um chicote,
abrindo as veias e o decote
ao meu amor!

Esqueço que os dedos têm ossos:
é só de sangue esta carícia;
apenas nervos os pescoços...
Mas nos teus olhos, nos meus olhos,
a luz da morte brilha.



David Mourão-Ferreira (Poeta português, 1927-1996)

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