segunda-feira, dezembro 17, 2007

António Mega Ferreira - Se não estivesses



Se não estivesses,
se a concha dos teus dedos
não fizesse vibrar em mim,
gota a gota,
a tua voz,
se não esticasses os braços
sobre um qualquer
espaço
que nunca será nosso,
se o teu sorriso
agora distendido
não se mostrasse todo
nos gestos do amor,
se a tua mão não procurasse
a minha, ou os meus dedos
não pudessem, ainda
que ao de leve,
tocar a ponta frágil dos teus cabelos
escuros,
se eu não encontrasse
em ti o meu olhar,
às vezes,
quando finjo que não vejo
o teu olhar
em mim,
se os dias não fossem
confortados
com a ideia de que existes
sensivelmente existes,
e que, por isso, de alguma
forma, eu sou em ti
a minha forma de existir
- estas palavras, as frases
que as expõem, o poema
em que tudo se articula, no íntimo
sentido que só existe
dentro do poema, tudo o que
é
e, ainda,
o que possa caber em nós, secretamente,
seria uma triste passagem
pelo que resta
e nem os meus olhos, e nem as minhas
lágrimas
diriam o que dizem;
porque a mão que escreve, o seu último
argumento, está
na concha dos teus dedos
e no gemido que atraiçoa
a tua voz.




António Mega Ferreira (Escritor e Jornalista português, 1949- )

3 comentários:

Anónimo disse...

Você gosta, aprecia coisa ruim mesmo.
E divulga coisa ruim.
quando é que começa a ler poesia?
Esta esperando o quê?
Não sabe ler?
Pois. Parece que não aprendeu. Com esse poema aí! é preocupante!
As melhoras.

Anónimo disse...

Este poema é dos mais belos de António Mega Ferreira. E é belo por si só. Se o "anónimo" não consegue ver isso, bem que podia manter a sua opinião no anonimato...

Anónimo disse...

De facto, o anónimo primeiro, deveria estar é bem calado! entende-se perfeitamente que não entende nada de poesia!
A crítica foi nitidamente para o autor do blog, por isso mesmo não teve o bom senso de se identificar. Este poema é belíssimo, e só não vê isso quem não sabe ler bem Português.

Andrea