quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Eugénio de Andrade - To a Green God

Trazia consigo a graça
das fomes, quando anoitece,
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens, quando desce.

Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.

Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
de uma flauta que tocava.



Eugénio de Andrade (Poeta português, 1923-2005)

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