sexta-feira, julho 04, 2008

Octávio Paz - Rendição



Depois de ter cortado todos os braços que se estendiam para mim; depois de ter entaipado todas as janelas e todas as portas; depois de ter inundado os fossos com água envenenada; depois de ter edificado minha casa num rochedo inacessível aos afagos e ao medo; depois de ter lançado punhados de silêncio e monossílabos de desprezo a meus amores; depois de ter esquecido meu nome e o nome da minha terra natal; depois de me ter condenado a perpétua espera e a solidão perpétua, ouvi contra as pedras de meu calabouço de silogismos a investida húmida, terna, insistente, da Primavera.



Octavio Paz (Poeta Mexicano, 1914-1998)

1 comentário:

Anónimo disse...

Mesmo o negrume da solidão desperta, se fascina, com a impetuosidade criadora da natureza. Porque a primavera é vida e a solidão carência de vida, basta quedarmo-nos a apreciar a vida que irrompe de uma flor, de uma árvore, para nunca estarmos sozinhos.