Ary dos Santos - Um homem na cidade
Agarro a madrugada
como se fosse uma criança
uma roseira entrelaçada
uma videira de esperança
tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem por força da vontade
de trabalhar nunca se cansa.
Vou pela rua
desta lua
que no meu Tejo acende o cio
vou por Lisboa maré nua
que se deságua no Rossio.
Eu sou um homem na cidade
que manhã cedo acorda e canta
e por amar a liberdade
com a cidade se levanta.
Vou pela estrada
deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresça na vela da canoa.
Sou a gaivota
que derrota
todo o mau tempo no mar alto
eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.
E quando agarro a madrugada
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada
um malmequer azul na cor.
O malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém
o malmequer desta cidade
que me quer bem que me quer bem!
Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis que me quer bem!
Ary dos Santos (Poeta português, 1937-1984)
Foto: The Rossio Fountains, de Dias dos Reis
2 comentários:
"Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso"
Grande poeta que nos deixou.
As suas palavras demonstram a força que tinha...
http://olhaquenaooutalvezsim.blogspot.com
tens alguma musica de jose carlos ary dos santos, ou melhor, um poema dele? falado? assim qualquer ocisa, precisava de uma cena do genero, se tiveres agradecia que mandasses para rfmq_04@hotmail.com com a maxima de urgencia possivel
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