domingo, junho 03, 2007

Luís Vaz de Camões - Com que voz



Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou.
Que mor não seja a dor que me deixou
o tempo, de meu bem desenganado.

Mas chorar não estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou.
Triste quero viver, pois se mudou
em tristeza a alegria do passado.

Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão duro
que lastima ao pé que a sofre e sente.

De tanto mal, a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dele aventuro.



Luís de Camões (Poeta português, 1524 ou 1525 - 1579 ou 1580)

3 comentários:

Julio Teixeira disse...

Duas obras primas fora do alcance dos mortais
Camões e Amália

Anónimo disse...

Olà! Bom dia! Desculpe, podia me dizer alguns mais dados deste poema de Camôes? (quando se escreveu, fez parte de alguma publicaçâo em específico, etc). Leio este poema em todas partes mas só no contexto de Amália, mas eu gostava de saber mais sobre ele no contexto de Camôes

Anónimo disse...

Somente hoje, por ter tomado conhecimento deste blog graças à informação de um amigo de Niterói com quem recentemente estive permutando informações sobre essa interpretação da grande Amália Rodrigues, atendo, com mais de dois anos de atraso, ao pedido de mqoknyrl, que não obteve resposta antes. O belo soneto em apreço é apenas "atribuído" a Luís de Camões, mas é considerado pelo há pouco falecido camonista brasileiro Leodegário A. de Azevedo Filho "com insuficiente prova de autoria camoniana", por não figurar em nenhuma fonte quinhentista (Cf. "Lírica de Camões, 1. História, metodologia, corpus", Lisboa, IN-CM, 1985, pp. 209 e 303). Azevedo Filho adotou um método objetivo muito rigoroso de aferição da autenticidade das obras atribuídas a Camões, por ele desenvolvido e aperfeiçoado, mas concebido originalmente por seu amigo Emmanuel Pereira Filho em "As Rimas de Camões", Rio de Janbeiro, Cia. José Aguilar Editora - MEC/INL, 1974. Em fonte antiga, o soneto só figura no "Cancioneiro Fernandes Tomás", fol. 156, manuscrito tardio do século XVIII, editado facsimilarmente pelo Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia de Lisboa em 1971. A composição foi publicada pela primeira vez por Teófilo Braga em "Camões, a obra lírica e épica", Porto, Livraria Chardron, de Lello & Irmão, 1911, p. 224. No segundo verso, Teófilo transcreveu corretamente "prizão", na ortografia original. Por sua vez, D. Carolina Michaëlis de Vasconcellos, em "O Cancioneiro Fernandes Tomás. Índices, nótulas e textos inéditos", Coimbra, Imprensa da Universidade, 1922, p. 143, considera-o atríbuído a Camões, mas, embora cite a versão de Teófilo, transcreve equivocadamente, no segundo verso, "paixão". Deve ter sido daí que saíu a versão adaptada cantada pela Amália. Sobre o assunto, ver também Cleonice Serôa da Motta Berardinelli, edição e notas, "Sonetos de Camões. Corpus dos Sonetos Camonianos", Braga, Barbosa & Xavier. Ltda., Editores, 1980, p. 450.