António Maga - Mãe
andam por aí, por essas ruas sujas, umas mulheres notáveis.
são mulheres de meia-idade, ligeiramente curvadas. andam frequentemente com sacos com mercearias e pão, que já lhes pesam um pouco nos braços cansados. têm um andar silencioso, quase que deslizam. o seu sorriso é tímido, por vezes, quase assustado, nestes tempos de agora, em que toda a gente fala aos gritos e se atropela, numa pressa de grosseria... quando as vejo passar, sinto medo que se magoem, mas, quase sempre, elas passam por essa gente como um rasto de perfume silvestre...
são mulheres frágeis. a saúde debilitada pela vida sofrida, pelo trabalho, pelos partos, pelos filhos. no rosto, desenhadas a traço profundo, muitas rugas à volta dos olhos límpidos. foram muitas preocupações. sempre. sempre. e quase nunca com elas. a sua vida correu numa coragem silenciosa, altruísta.
essencialmente, são mães. mais que mulheres são mães.
já estão reformadas. mas nunca deixam de trabalhar. têm algumas tardes difíceis. quando estão sozinhas, numa casa que se esvaziou com os anos.
então, por vezes, pensam na sua vida, pensam na sua infância, e começam a chorar devagarinho. sentem que tudo passou muito depressa.
essas mulheres que estão sempre em casa. sempre lá. sempre à espera de um filho ou de uma neta. sempre lá. sempre prontas a ajudar. sempre prontas a cozinhar uma refeição tardia.
são tardes terríveis. são longas. elas estão sozinhas em casa. e sabem muito bem que não vão estar sempre lá. sentem que não deviam estar sozinhas. que não merecem isso. e têm toda a razão do mundo. mas estou a falar de pessoas muitos especiais.
são pessoas de amor desmedido. nunca o dizem, mas acham sempre que os filhos mereciam uma namorada melhor.
são mulheres sem preço. se vão ao hospital, visitar um filho doente, olham os médicos e os enfermeiros que o tratam, numa súplica muda de desvelo.
são mulheres de eleição!
uma delas é minha mãe!
merecia um filho melhor que eu!
merecia um texto melhor que este.
merecia um mundo infinitamente melhor que este.
com amor
António Maga (Escritor Português)
são mulheres de meia-idade, ligeiramente curvadas. andam frequentemente com sacos com mercearias e pão, que já lhes pesam um pouco nos braços cansados. têm um andar silencioso, quase que deslizam. o seu sorriso é tímido, por vezes, quase assustado, nestes tempos de agora, em que toda a gente fala aos gritos e se atropela, numa pressa de grosseria... quando as vejo passar, sinto medo que se magoem, mas, quase sempre, elas passam por essa gente como um rasto de perfume silvestre...
são mulheres frágeis. a saúde debilitada pela vida sofrida, pelo trabalho, pelos partos, pelos filhos. no rosto, desenhadas a traço profundo, muitas rugas à volta dos olhos límpidos. foram muitas preocupações. sempre. sempre. e quase nunca com elas. a sua vida correu numa coragem silenciosa, altruísta.
essencialmente, são mães. mais que mulheres são mães.
já estão reformadas. mas nunca deixam de trabalhar. têm algumas tardes difíceis. quando estão sozinhas, numa casa que se esvaziou com os anos.
então, por vezes, pensam na sua vida, pensam na sua infância, e começam a chorar devagarinho. sentem que tudo passou muito depressa.
essas mulheres que estão sempre em casa. sempre lá. sempre à espera de um filho ou de uma neta. sempre lá. sempre prontas a ajudar. sempre prontas a cozinhar uma refeição tardia.
são tardes terríveis. são longas. elas estão sozinhas em casa. e sabem muito bem que não vão estar sempre lá. sentem que não deviam estar sozinhas. que não merecem isso. e têm toda a razão do mundo. mas estou a falar de pessoas muitos especiais.
são pessoas de amor desmedido. nunca o dizem, mas acham sempre que os filhos mereciam uma namorada melhor.
são mulheres sem preço. se vão ao hospital, visitar um filho doente, olham os médicos e os enfermeiros que o tratam, numa súplica muda de desvelo.
são mulheres de eleição!
uma delas é minha mãe!
merecia um filho melhor que eu!
merecia um texto melhor que este.
merecia um mundo infinitamente melhor que este.
com amor
António Maga (Escritor Português)
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