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sexta-feira, junho 13, 2008

Luís Miguel Nava - As ondas que se encontram



As ondas que se encontram
ainda agora em formação no espírito
dele já não vêm rebentar ao meu.

Por mim não volto a vê-lo, encontros houve
com ele dos quais a alma ficou cheia de dedadas.

Já nem sequer dele quero ouvir falar,
saber que se ele
fosse uma cama estaria por fazer nada me traz
agora além de desconforto.



Luís Miguel Nava (Poeta português, 1957- )


domingo, setembro 02, 2007

Mark Strand - Giving Myself Up




Foto: (Re)born, de Graça



I give up my eyes which are glass eggs.
I give up my tongue.
I give up my mouth which is the contstant dream of my tongue.
I give up my throat which is the sleeve of my voice.
I give up my heart which is a burning apple.
I give up my lungs which are trees that have never seen the moon.
I give up my smell which is that of a stone traveling through rain.
I give up my hands which are ten wishes.
I give up my arms which have wanted to leave me anyway.
I give up my legs which are lovers only at night.
I give up my buttocks which are the moons of childhood.
I give up my penis which whispers encouragement to my thighs.
I give up my clothes which are walls that blow in the wind
and I give up the ghost that lives in them.
I give up. I give up.
And you will have none of it because already I am beginning
again without anything.




Mark Strand (Poeta Canadiano, 1934- )

Biografia de Mark Strand

domingo, março 04, 2007

António Lobo Antunes - Se eu não te amar mais



Se eu não te amar mais me
Caia o mar nos ombros
Me caia
Este silêncio pelos ossos dentro
Me cegue os olhos esta sombra
Me cerre
Esta noite num escuro mais profundo
Do que a chuva de ti de mãos tão leves
A figueira do meu sangue se emudeça
De pássaros à espera dos teus passos
De outra voz por sobre a minha
Morta
E as ruas do teu corpo eu desaprenda
Como desaprendi os dedos que em tocam
E se eu não te amar mais me caia a casa
De costa no teu peito como o vento



António Lobo Antunes (Escritor e Poeta português, 1942- )

domingo, dezembro 17, 2006

Maria Tereza Horta - Poema sobre a recusa




Foto: Straight to the heart by Stellefilanti



Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda



Maria Tereza Horta (Escritora portuguesa, 1937- )

Maria Tereza Horta - Minha Senhora de Mim



Comigo me desavim
minha senhora
de mim

sem ser dor ou ser cansaço
nem o corpo que disfarço

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

nunca dizendo comigo
o amigo nos meus braços

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

recusando o que é desfeito
no interior do meu peito


Maria Tereza Horta (Escritora portuguesa, 1937 - )

domingo, novembro 26, 2006

Elis Regina - Atrás da porta







Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei
Eu te estranhei
Me debrucei sobre o teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pêlos
Teu pijama
Nos teus pés
Ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho

Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me entregar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
Só pra provar que ainda sou tua...


Chico Buarque (Poeta e Cantor brasileiro, 1944 - ) e Francisco Hime (Poeta Brasileiro)

domingo, outubro 29, 2006

Alexandre O'Neill - Poema do Desamor





Poema do Desamor




Desmama-te desanca-te desbunda-te
Não se pode morar nos olhos de um gato

Beija embainha grunhe geme
Não se pode morar nos olhos de um gato

Serve-te serve sorve lambe trinca
Não se pode morar nos olhos de um gato

Queixa-te coxa-te desnalga-te desalma-te
Não se pode morar nos olhos de um gato

Arfa arqueja moleja aleija
Não se pode morar nos olhos de um gato

Ferra marca dispara enodoa
Não se pode morar nos olhos de um gato

Faz festa protesta desembesta
Não se pode morar nos olhos de um gato

Arranha arrepanha apanha espanca
Não se pode morar nos olhos de um gato



Alexande O'Neill (Poeta português, 1924-1986)



Foto: See you tomorrow by Buntekuh