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sexta-feira, dezembro 07, 2007

Nuno Júdice - Declaração






Gosto das mulheres que envelhecem,
com a pressa das suas rugas, os cabelos
caídos pelos ombros negros do vestido,
o olhar que se perde na tristeza
dos reposteiros. Essas mulheres sentam-se
nos cantos das salas, olham para fora,
para o átrio que não vejo, de onde estou,
embora adivinhe aí a presença de
outras mulheres, sentadas em bancos
de madeira, folheando revistas
baratas. As mulheres que envelhecem
sentem que as olho, que admiro os seus gestos
lentos, que amo o trabalho subterrâneo
do tempo nos seus seios. Por isso esperam
que o dia corra nesta sala sem luz,
evitam sair para a rua, e dizem baixo,
por vezes, essa elegia que só os seus lábios
podem cantar.




in «A Fonte da Vida», 1997

Nuno Júdice (Escritor e Poeta português, 1949- )

domingo, agosto 26, 2007

Shel Silverstein - The Little Boy and the Old Man



Said the little boy, "Sometimes I drop my spoon."
Said the old man, "I do that too."
The little boy whispered, "I wet my pants."
"I do that too," laughed the little old man.
Said the little boy, "I often cry."
The old man nodded, "So do I."
"But worst of all," said the boy, "it seems
Grown-ups don't pay attention to me."
And he felt the warmth of a wrinkled old hand.
"I know what you mean," said the little old man.




Shel Silverstein (Poeta Norte-Americano, 1930-1999)

Biografia de Shel Silverstein

domingo, março 04, 2007

António Lobo Antunes - Valsa das viúvas da Pastelaria Bénard



Homenagem a Alexandre O'neill



Cada qual de cão ao colo
damos de comer ao cão
chá e migalhas de bolo
pão-de-ló de Alfezeirão.

Arejamos com o leque
calores dos 60 anos
pérolas de pechisbeque
brincos de prata ciganos.

Lá em casa convivemos
com os estalos da mobília
tristes silêncios serenos
doçuras de chá de tília.

Réstias de sol nas janelas
de cortinas desbotadas
candelabros de três velas
retratos das afilhadas.

A crueldade do espelho
vem mostrar-nos de manhã
ruínas de um corpo velho
num casaquinho de lã.

E à cabeceira da cama
o riso do falecido
garante qu'inda nos ama
por trás da placa de vidro.

Ai felicidade perdida
porque a mágoa não tem fundo
o cão ladra contra a vida
nós ladramos contra o mundo.




António Lobo Antunes (Escritor e Poeta português, 1942- )