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domingo, outubro 21, 2007

Chiranan Pitpreecha - Se abrirán las flores



Foto: Cedric Porchez



Flores, las flores se abrirán,
Puras y audaces florecerán en nuestro espíritu.
Blancas, la juventud se arrojará
Resueltamente hacia la transformación, encendiendo las llamas de nuestra certidumbre.
La sabiduría contra el desencanto
Da un paso adelante, hacia las multitudes.
Vida presta al sacrificio
En medio de la confusión, para el bien del pueblo.
Flores, las flores se abrirán en toda su osadía
Lentamente podrán florecer, para durar eternamente.
Aquí, allí y en todo lugar
Frescas flores, para todo el pueblo.




Chiranan Pitpreecha (Poetisa Tailandesa, 1955- )

Tradução de Raúl Jaime Gaviria

Biografia de Chiranan Pitpreecha

Crisódio T. Araújo - Poema Ancestral



Foto: Filipe Morato Gomes



Lembra os dias antigos
Em que cantavas a pureza
Na nudez dos teus passos e gestos
Ou dançavas na inocente vaidade
Ao som dos «babadok».
Relembra as trevas da tua inquietação
E o silêncio das tuas expectativas,
As chuvas, as memórias heróicas,
Os milagres telúricos,
Os fantasmas e os temores.
Tenta lembrar a herança milenar dos teus avós
Traduzida em sabedoria
E verdade de todos.
Recorda a festa das colheitas,
A harmonia dos teus Ritos,
A lição antiga da liberdade,
Filha da natureza.
Recorda a tua fé guerreira,
A lealdade,
E a ternura do teu lar sem limites,
Nos caminhos do inesperado
Ou no improviso da partilha definitiva.
Lembra pela última vez
Que a história da tua ancestralidade
É a história da tua Terra Mãe...




Crisódio T. Araújo (Poeta timorense)

Xanana Gusmão - Oh! Liberdade!



Foto: Autor desconhecido




Se eu pudesse
pelas frias manhãs
acordar tiritando
fustigado pela ventania
que me abre a cortina do céu
e ver, do cimo dos meus montes,
o quadro roxo
de um perturbado nascer do sol
a leste de Timor

Se eu pudesse
pelos tórridos sóis
cavalgar embevecido
de encontro a mim mesmo
nas serenas planícies do capim
e sentir o cheiro de animais
bebendo das nascentes
que murmurariam no ar
lendas de Timor

Se eu pudesse
pelas tardes de calma
sentir o cansaço
da natureza sensual
espreguiçando-se no seu suor
e ouvir contar as canseiras
sob os risos
das crianças nuas e descalças
de todo o Timor

Se eu pudesse
ao entardecer das ondas
caminhar pela areia
entregue a mim mesmo
no enlevo molhado da brisa
e tocar a imensidão do mar
num sopro da alma
que permita meditar o futuro
da ilha de Timor

Se eu pudesse
ao cantar dos grilos
falar para a lua
pelas janelas da noite
e contar-lhe romances do povo
a união inviolável dos corpos
para criar filhos
e ensinar-lhes a crescer e a amar
a Pátria Timor!




Xanana Gusmão (Líder da resistência Maubere, Político e poeta timorense, 1946- )

Biografia de Xanana Gusmão

Crisódio T. Araújo - Reflexos de Timor



Timorese return to the burnt out remains of their homes only to find rogue elements with the departing Indonesian Military burning nearby buildings. East Timor September 1999.
Foto: David Dare Parker



Reflexos da terra há muito deixada
Por tantos e tantos chorada...
Reflexos de um mar sedento de Paz
Corado do sangue de todo o que jaz...
Reflexos de um grito do Monte
Cansado de tanto sofrer...

Reflexos, Reflexos de Timor...

Reflexos de quem clama a Justiça
De um Mundo sem Lei nem Amor!
Reflexos de um Povo que grita
Liberdade, Liberdade, Viva Timor!




Crisódio T. Araújo (Poeta Timorense)

domingo, setembro 23, 2007

Leo Zelada - Percival



“O que ama, obedece"
Chrétien de Troyes
siglo XII



sou o cavaleiro negro andante
que caminha silencioso entre as sombras
e desaparece taciturno sobre a névoa
aquele que luta por absurdas e ilusórias cruzadas
e só encontra o amargo olhar do exílio
não obstante é o que ao sopé de uma solitária torre
espera sua donzela — ordem das rosas —
na vasta imensidão da noite




Leo Zelada (Poeta Peruano, 1970- )

Tradução Sílvio Persivo.

Biografia de Leo Zelada




Percival




«el que ama, obedece»

Chrétien de Troyes
siglo XII

soy el oscuro caballero andante
que camina silencioso entre las sombras
y se desvanece taciturno sobre la niebla
aquel que lucha por absurdas ilusas cruzadas
y sólo encuentra la mirada amarga del exilio
no obstante el que al pie de una solitaria torre
espera a su doncella -orden de las rosas-
en la vasta inmensidad de la noche



Leo Zelada (Poeta Peruano, 1970- )

domingo, novembro 26, 2006

Elis Regina - Romaria



Vídeo: Elis Regina canta Romaria na RTP




É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos
Sobre meu cavalo
É de laço e de nó
De jibeira o jiló
Dessa vida
Cumprida a só

Sou caipira, pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

O meu pai foi peão
Minha mãe solidão
Meus irmãos perderam-se na vida
À custa de aventuras
Descansei, joguei
Investi, desisti
Se há sorte, eu não sei, nunca vi

Me disseram, porém
Que eu viesse aqui
Pra pedir de
Romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar



Renato Teixeira (Letrista e músico Barsileiro, 1945- )

Elis Regina - O mestre sala dos mares








Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas, jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão que a exemplo do feiticeiro gritava então:

Glória aos piratas
As mulatas
As sereias
Glória a farofa
A cachaça
As baleias
Glória a todas as lutas inglórias que através da nossa história não esquecemos jamais
Salve o navegante negro que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas salve
Salve o navegante negro que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo


João Bosco (Poeta e Músico brasileiro, 1946- ) e Aldir Blanc (Poeta e Músico brasileiro, 1946- )

Elis Regina - O Bêbado e a Equilibrista







Caía
A tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos

A lua
Tal qual a dona dum bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

E nuvens
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!

Louco,
O bêbado com chapéu côco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
Meu Brasil

Que sonha
Com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete

Chora a nossa pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses
No solo do Brasil

Mas sei
Que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança dança
Na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar

Azar
A esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar

João Bosco (Poeta e Músico brasileiro, 1946- ) e Aldir Blanc (Poeta e Músico brasileiro, 1946- )

domingo, outubro 15, 2006

Agostina Akemi - Entranhas



Foto: Not alone (pain is my lover), by Esther G


O sorriso caiu.
Entre as pétalas de mim:
o cio.
Esperma aos farelos.
A lua bóia na taça de sangue.
Entre os sopros selvagens,
tórridos toques
(sinceros como um cadáver).
Com os dedos enfiados no vento,
quero lamber a liberdade.
Já esfacelei minhas lágrimas...
Enquanto o sol
baba sobre mim,
vou varrendo minha sombra
com restos de beijos...
A esperança dormiu.
Entre os subúrbios de mim:
a dor.
Bolhas de areia,
cacos de suor...
Há bolor nas estrelas.
Eis-me pecado!
Eis-me boca!
Pouca coisa:
alfinetes incendiados.
O amor vai pingando sobre o telhado,
amargo enquanto vocábulo:
deserto parido.
A vida é um estupro:
nasci para morrer.
Renascer das cinzas,
das sobras,
das teias...
Vou lutar até o orgasmo.
A noite
arrotou.
Assim seja,
assim sangre...
Entre a poeira de mim:
o prazer.
Caroço de paixão.
Vou morrer...
Vou morrer... Mas é só para te humilhar.
Vem...
Degola meu cheiro.
Não sou mulher,
sou distanásia.



Agostina Akemi (Poetisa brasileira)

Antônio Brasileiro - Estudo 11



Os homens me fizeram assim.
Assim permaneço, assim,
uma constante negação de mim dentro de mim.

Jamais eu fui eu mesmo, eu mesmo,
porque foram os homens que me fizeram,
sempre foram os homens que me fizeram.

Eu sou assim, negando-me negando-me,
— outro irão eu alimentando-se de mim —
porque jamais Eu Mesmo teria sido assim.

Os homens me fizeram o que eu não seria
se eu fosse eu próprio.
Mas sou assim.

Milhões de vozes falam milhões de olhos vêem
milhões de braços clamam milhões de lábios tremem
milhões de peitos sofrem milhões de vozes

calam dentro de mim.
— Outro não eu alimenta-se de mim —
Eu lutarei eu lutarei eu lutarei eu lutarei.




Antônio Brasileiro

Mário de Sá-Carneiro - Quase

Quase



Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minhalma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir... Onde acoitar-me?...
Os braços duma cruz
Anseiam-se-me, e eu fujo também ao luar...



Mário Sá-Carneiro (Escritor e poeta português, 1890-1916)

Mário Sá-Carneiro - Queda


Queda



E
eu que sou o rei de toda esta incoerência,
Eu próprio turbilhão, anseio por fixá-la
E giro até partir ... mas tudo me resvala
Em bruma e sonolência.
Se acaso em minhas mãos fica um pedaço de oiro,
Volve-se logo falso ... ao longe o arremesso...
Eu morro de desdém em frente dum tesoiro,
Morro á mingua, de excesso.

Alteio-me na cor à força de quebranto,
Estendo os braços de alma – e nem um espasmo venço!...

Peneiro-me na sombra – em nada me condenso...
Agonias de luz eu viro ainda entanto.

Não me pude vencer, mas posso-me esmagar,
vencer às vezes é o mesmo que tombar –
e como inda sou luz, num grande retrocesso,
em raivas ideais ascendo até ao fim:
olho do alto o gelo, ao gelo me arremesso ...

Tombei ....

E fico só esmagado sobre mim !...



Mário Sá Carneiro
(Escritor e poeta português, 1890-1916)


Foto: The Awful Truth, Day 4- Could Be Working Harder by Big Fat Rat

Miguel Torga - Guerra Civil




Guerra Civil




É contra mim que luto.
Não tenho outro inimigo.
O que penso,
O que sinto,
O que digo
E o que faço,
É que pede castigo
E desespera a lança no meu braço.

Absurda aliança
De criança
E adulto,
O que sou é um insulto
Ao que não sou;
E combato esse vulto
Que à traição me invadiu e me ocupou.

Infeliz com loucura e sem loucura,
Peço à vida outra vida, outra aventura,
Outro incerto destino.
Não me dou por vencido,
Nem convencido.
E agrido em mim o homem e o menino.



Miguel Torga (Escritor e poeta português, 1907-1995)


Foto: To kill the imageElena, by Vasilieva