Mostrar mensagens com a etiqueta Patriotismo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Patriotismo. Mostrar todas as mensagens

domingo, outubro 21, 2007

Crisódio T. Araújo - Poema Ancestral



Foto: Filipe Morato Gomes



Lembra os dias antigos
Em que cantavas a pureza
Na nudez dos teus passos e gestos
Ou dançavas na inocente vaidade
Ao som dos «babadok».
Relembra as trevas da tua inquietação
E o silêncio das tuas expectativas,
As chuvas, as memórias heróicas,
Os milagres telúricos,
Os fantasmas e os temores.
Tenta lembrar a herança milenar dos teus avós
Traduzida em sabedoria
E verdade de todos.
Recorda a festa das colheitas,
A harmonia dos teus Ritos,
A lição antiga da liberdade,
Filha da natureza.
Recorda a tua fé guerreira,
A lealdade,
E a ternura do teu lar sem limites,
Nos caminhos do inesperado
Ou no improviso da partilha definitiva.
Lembra pela última vez
Que a história da tua ancestralidade
É a história da tua Terra Mãe...




Crisódio T. Araújo (Poeta timorense)

Xanana Gusmão - Oh! Liberdade!



Foto: Autor desconhecido




Se eu pudesse
pelas frias manhãs
acordar tiritando
fustigado pela ventania
que me abre a cortina do céu
e ver, do cimo dos meus montes,
o quadro roxo
de um perturbado nascer do sol
a leste de Timor

Se eu pudesse
pelos tórridos sóis
cavalgar embevecido
de encontro a mim mesmo
nas serenas planícies do capim
e sentir o cheiro de animais
bebendo das nascentes
que murmurariam no ar
lendas de Timor

Se eu pudesse
pelas tardes de calma
sentir o cansaço
da natureza sensual
espreguiçando-se no seu suor
e ouvir contar as canseiras
sob os risos
das crianças nuas e descalças
de todo o Timor

Se eu pudesse
ao entardecer das ondas
caminhar pela areia
entregue a mim mesmo
no enlevo molhado da brisa
e tocar a imensidão do mar
num sopro da alma
que permita meditar o futuro
da ilha de Timor

Se eu pudesse
ao cantar dos grilos
falar para a lua
pelas janelas da noite
e contar-lhe romances do povo
a união inviolável dos corpos
para criar filhos
e ensinar-lhes a crescer e a amar
a Pátria Timor!




Xanana Gusmão (Líder da resistência Maubere, Político e poeta timorense, 1946- )

Biografia de Xanana Gusmão

domingo, setembro 16, 2007

Nicolás Guillén - Minha Pátria é doce por fora...



Foto: Santa Lucia Beach, Camagüey province, Cuba, de Innoxiuss.



Minha pátria é doce por fora
E muito amarga por dentro.
Minha pátria é doce por fora
Com sua primavera verde,
Com sua primavera verde,
E um sol de fel no centro.

Que céu azul tão calado
Olha impassível tua dor.
Que céu azul tão calado
Aí, Cuba, o que Deus te há dado,
Aí, Cuba, o que Deus te há dado
Pra teu céu ser tão azul.

Um pássaro de madeira
Me traz em seu bico o canto.
Um pássaro de madeira.
Aí, Cuba, se te dissera
Eu que te conheço tanto
Aí, Cuba, se te dissera
Que é de sangue tua palmeira,
Que é de sangue tua palmeira
E o teu mar é de pranto.

Sob teu riso ligeiro
Eu que te conheço tanto
Vejo o sangue e o pranto
Sob teu riso ligeiro.

Sangue e pranto
Sob teu riso ligeiro
Sangue e pranto
Sob teu riso ligeiro
Sangue e pranto.

Um filho mesmo da terra
Está numa cova metido,
Morto sem haver nascido,
Um filho mesmo da terra
E o homem da cidade,
Aí, Cuba, é um mendigo
Que anda com fome e duro
Pedindo por caridade
Ainda que use chapéu
E baile na sociedade
(e o digo por inteiro
por ser a pura verdade).

Hoje ianque, antes espanhola
Sim, senhor,
A terra que nos tocou
Sempre pobre a encontrou

Se hoje ianque, antes espanhola
Como não!
Que solitária terra só
A terra que nos tocou!

A mão que não se afrouxa
Há que estreitá-la em seguida;
Chinesa, preta, branca ou vermelha,
Chinesa, preta, branca ou vermelha,
Com a nossa mão estendida.

Um marinheiro americano,
Bem,
Num restaurante do porto,
Bem
Um marinheiro americano
Me quis estender sua mão,
Me quis estender sua mão
Porém ali se quedou morto,
Bem,
Porém ali se quedou morto
Um marinheiro americano
Que num restaurante do porto
Me quis estender a mão.
Bem!





Nicolás Guillén (Poeta cubano, 1902-1989)

Biografia de Nicolás Guillén





Mi Patria es dulce por fuera...




Un pájaro de madera
me trajo en su pico el canto;
un pájaro de madera.
¡Ay, Cuba, si te dijera,
yo que te conozco tanto,
ay, Cuba, si te dijera,
que es de sangre tu palmera,
que es de sangre tu palmera,
y que tu mar es de llanto!

Bajo tu risa ligera,
yo, que te conozco tanto,
miro la sangre y el llanto,
bajo tu risa ligera.

Sangre y llanto
bajo tu risa ligera;
sangre y llanto
bajo tu risa ligera.
Sangre y llanto.

El hombre de tierra adentro
está en un hoyo metido,
muerto sin haber nacido,
el hombre de tierra adentro.
Y el hombre de la ciudad,
ay, Cuba, es un pordiosero:
Anda hambriento y sin dinero,
pidiendo por caridad,
aunque se ponga sombrero
y baile en la sociedad.
(Lo digo en mi son entero,
porque es la pura verdad.)

Hoy yanqui, ayer española,
sí, señor,
la tierra que nos tocó
siempre el pobre la encontró
si hoy yanqui, ayer española,
¡cómo no!
¡Qué sola la tierra sola,
la tierra que nos tocó!

La mano que no se afloja
hay que estrecharla en seguida;
la mano que no se afloja,
china, negra, blanca o roja,
china, negra, blanca o roja,
con nuestra mano tendida.

Un marino americano,
bien,
en el restaurant del puerto,
bien,
un marino americano
me quiso dar con la mano,
me quiso dar con la mano,
pero allí se quedó muerto,
bien,
pero allí se quedó muerto
el marino americano
que en el restaurant del puerto
me quiso dar con la mano,
¡bien!




Nicolás Guillén (Poeta cubano, 1902-1989)

domingo, agosto 12, 2007

Antjie Krog - Land



Foto: Spread your wings and fly (África do Sul), de Lisa Hollstegge



under orders from my ancestors you were occupied
had I language I could write for you were land my land

but me you never wanted
no matter how I stretched to lie down
in rustling blue gums
in cattle lowering horns into Diepvlei
rippling the quivering jowls drink
in silky tassels in dripping gum
in thorn trees that have slid down into emptiness

me you never wanted
me you could never endure
time and again you shook me off
you rolled me out
land, slowly I became nameless in my mouth

now you are fought over
negotiated divided paddocked sold stolen mortgaged
I want to go underground with you land
land that would not have me
land that never belonged to me

land that I love more fruitlessly than before




Antjie Krog (Poetisa Sul-Africana, 1952- )

Biografia de Antjie Krog

domingo, junho 10, 2007

Luís Vaz de Camões - Os Lusíadas (Canto I, 1-3)



Imagem de João Pedroso (1825-1890) que retrata um episódio dos Lusíadas



1

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

2

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

3

Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

(...)



Luís de Camões (Poeta português, 1524 ou 1525 - 1579 ou 1580)


Os Lusíadas on-line 1

Os Lusíadas on-line 2

domingo, março 25, 2007

Rosália de Castro - Cantarte hei, Galicia



Foto: Coruña, de Susana B.



Cantarte hei, Galicia,
teus dulces cantares,
que así mo pediron
na veira do mare.

Cantarte hei, Galicia,
na lengua gallega,
consolo dos males,
alivio das penas.

Mimosa, soave,
sentida, queixosa;
encanta si ríe,
conmove si chora.

Cal ela, ningunha
tan doce que cante
soidades amargas,
sospiros amantes,

misterios da tarde,
murmuxos da noite:
Cantarte hei, Galicia,
na beira das fontes.

Que así mo pediron,
que así mo mandaron,
que cante e que cante
na lengua que eu falo.

Que así mo mandaron,
que así mo dixeron...
Xa canto, meniñas.
Coidá que comenzo.

Con dulce alegría,
con brando compás,
ó pé das ondiñas
que veñen e van.

Dios santo premita
que aquestes cantares
de alivio vos sirvan
nos vosos pesares;

de amabre consolo,
de soave contento,
cal fartan de dichas
compridos deseios.

De noite, de día,
na aurora, na sera,
oirésme cantando
por montes e veigas.

Quen queira me chame,
quen queira me obriga:
Cantar, cantareille
de noite e de día,

por darlle contento,
por darlle consolo,
trocando en sonrisas
queixiñas e choros.

Buscaime, rapazas,
velliñas, mociños,
buscaime antre os robres,
buscaime antre os millos,

nas portas dos ricos,
nas portas dos probes,
que aquestes cantares
a todos responden.

A todos, que á Virxen
axuda pedín,
porque vos console
no voso sufrir,

nos vosos tormentos,
nos vosos pesares.
Coidá que comenso...
Meniñas, ¡Dios diante!



in Cantares Gallegos (1863)

Rosália de Catsro (Poetisa Galega, 1837-1885)

Rosália de Castro - Castellanos de Castilla



Castellanos de Castilla,

tratade ben ós gallegos,
cando van, van como rosas;
cando véná vén como negros.


-Cando foi, iba sorrindo;
cando veu, viña morrendo
a luciña dos meus ollos,
o amantiño do meu peito.

Aquel máis que neve branco,
aquel de dozuras cheio,
aquel por quen en vivía
e sin quen vivir non quero.

Foi a Castilla por pan,
e saramagos lle deron;
déronlle fel por bebida,
peniñas por alimento.

Déronlle, en fin, canto amargo
ten a vida no seu seo...
¡Castellanos, castellanos,
tendes corazón de ferro!

¡Ai!, no meu corazonciño
xa non pode haber contento,
que está de dolor ferido,
que está de loito cuberto.

Morreu aquel que eu quería,
e para min n'hai consuelo:
solo hai para min, Castilla,
a mala lei que che teño.

Premita Dios, castellanos,
castellanos que aborrezo,
que antes os gallegos morran
que ir a pedirvos sustento.

Pois tan mal corazón tendes,
secos fillos do deserto,
que si amargo pan vos ganan,
dádesllo envolto en veneno.

Aló van, malpocadiños,
todos de esperanzas cheios,
e volven, ¡ai!, sin ventura,
con un caudal de desprezos.

Van probes e tornan probes,
van sans e tornan enfermos,
que anque eles son como rosas,
tratádelos como negros.

¡Castellanos de Castilla,
tendes corazón de aceiro,
alma como as penas dura,
e sin entrañas o peito!

En trós de palla sentados,
sin fundamentos, soberbos,
pensás que os nosos filliños
para servirvos naceron.

E nunca tan torpe idea,
tan criminal pensamento
coupo en máis fatuas cabezas
ni en máis fatuos sentimentos.

Que Castilla e castellanos,
todos nun montón, a eito,
non valen o que unha herbiña
destes nosos campos frescos.

Solo pezoñosas charcas
detidas no ardente suelo,
tes, Castilla, que humedezan
esos teos labios sedentos.

Que o mar deixoute olvidada
e lonxe de ti correron
as brandas auguas que traen
de prantas cen semilleiros.

Nin arbres que che den sombra,
nin sombra que preste alento...
llanura e sempre llanura,
deserto e sempre deserto...

Esto che tocou, coitada,
por herencia no universo,
¡miserable fanfarrona!...
triste heirencia foi por certo.

En verdad non hai, Castilla,
nada como ti tan feio,
que aínda mellor que Castilla,
valera decir inferno.

¿Por que aló foches, meu ben?
¡Nunca tal houberas feito!
¡Trocar campiños frolidos
por tristes campos sin rego!

¡Trocar tan craras fontiñas,
ríos tan murmuradeiros
por seco polvo que nunca
mollan as bágoas do ceo!

Mais, ¡ai!, de onde a min te foches
sin dor do meu sentimento,
i aló a vida che quitaron,
aló a mortiña che deron.

Morreches, meu queridiño,
e para min n'hai consuelo,
que onde antes te vía, agora
xa solo unha tomba vexo.

Triste como a mesma noite,
farto de dolor o peito,
pídolle a Dios que me mate,
porque xa vivir non quero.

Mais en tanto no me mata,
castellanos que aborrezo,
hei, para vergonza vosa,
heivos de cantar xemendo:
¡Castellanos de Castilla,
tratade ben ós gallegos;
cando van, van como rosas;
cando vén, vén como negros!




in Cantares Gallegos (1863)

Rosália de Castro (Poetisa Galega, 1837-1885)

Rosália de Castro - A Gaita Gallega




Resposta
Ao eminente poeta D. Ventura Ruiz de Aguilera



- I -

Cando este cantar, poeta,
na lira xemendo entonas,
non sei o que por min pasa
que as lagrimiñas me afogan,
que ante de min cruzar vexo
a Virgen-mártir que invocas,
cos pes cravados de espiñas
cas mans cubertas de rosas.
En vano a gaita tocando
unha alborada de groria
sons polos aires espalla
que cán nas tembrantes ondas.
En vano baila contenta
nas eiras a turba louca,
que aqueles sons, tal me afrixen,
cousas tan tristes me contan,
que eu podo decirche:
Non canta, que chora.


- II -

Vexo contigo estos ceos,
vexo estas brancas auroras,
vexo estes campos froridos
donde se arrullan as pombas,
i estas montañas xigantes
que aló cas nubes se tocan
cubertas de verdes pinos
e de froliñas cheirosas.
Vexo esta terra bendita
donde o ben de Dios rebota
e donde anxiños hermosos
tecen brillantes coroas.
Mas, ¡ai!, como tamén vexo
pasar macilentas sombras,
grilos de ferro arrastrando
antre sorrisas de mofa,
anque mimosa gaitiña
toque alborada de groria,
eu podo decirche:
Non canta, que chora.


- III -

Falas, i o meu pensamento
mira pasar temerosas
as sombras deses cen portos
que ó pé das ondiñas moran,
e pouco a pouco marchando
fráxiles, tristes e soias,
vagar as naves soberbas
aló nunha mar traidora.
I, ¡ai!, como nelas navegan
os fillos das nosas costas
con rumbo a América infanda
que a morte co pan lles dona,
desnudos pedindo en vano
á patria misericordia,
anque contenta a gaitiña
o probe gaiteiro toca,
eu podo decirche:
Non canta, que chora.


- IV -

Probe Galicia, non debes
chamarte nunca española,
que España de ti se olvida
cando eres, ¡ai!, tan hermosa.
Cal si na infamia naceras,
torpe, de ti se avergonza,
i a nai que un fillo despreza
nai sin corazón se noma.
Naide por que te levantes
che alarga a man bondadosa;
naide os teus prantos erixuga,
i homilde choras e choras.
Galicia, ti non tes patria,
ti vives no mundo soia,
i a prole fecunda túa
se espalla en errantes hordas,
mentras triste e solitaria
tendida na verde alfombra
ó mar esperanzas pides,
de Dios a esperanza imploras.
Por eso anque en son de festa
alegre á gaitiña se oia,
eu podo decirche:
Non canta, que chora.


- V -

«Espera, Galicia, espera»
¡Canto este grito consola!
Páguecho Dios, bon poeta,
mais é unha esperanza louca;
que antes de que os tempos cheguen
de dicha tan venturosa,
antes que Galicia suba
ca cruz que o seu lombo agobia
aquel difícil camiño
que ó pé dos abismos toca,
quisais, cansada e sedenta,
quisais que de angustias morra.
Págueche Dios, bon poeta,
esa esperanza de groria,
que de teu peito surxindo,
á Virgen-mártir coroa,
i esta a recompensa sea
de amargas penas tan fondas.
Págueche este cantar triste
que as nosas tristezas conta,
que soio ti... ¡ti entre tantos!,
das nosas mágoas se acorda.
¡Dina voluntad dun xenio,
alma pura e xenerosa!
E cando a gaita gallega
aló nas Castillas oias,
ó teu corazón pergunta,
verás que che di en resposta
que a gaita gallega:
Non canta, que chora.



in Cantares Gallegos (1863)

Rosália de Castro (Poetisa Galega, 1837-1885)