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domingo, agosto 12, 2007

Seitlhamo Motsapi - River Robert



Foto: Machetazos, by wweeggee



we are at peace here
even while our lungs are full
of secret wars
& primordial fears bruise our suns
we are at peace here Robert

with hopes upon our heads
& songs sprouting out of our sins
we bless the lacerations

we are at peace here
across the rock & scrub
a sole rainbow pillar
protrudes from the earth, full
of promise & solace

i have one eye full of dreams & hintentions
the other is full of broken mirrors
& cracked churchbells

i have one eye full of rivers & welcomes
the other is full of flickers & fades

i have
a memory full of paths & anointings
a mouth full of ripe infant suns
seven legs for the dancing river & the clement abyss
& a hope that corrodes the convulsions
we bless the long rough road
we bless the inscrutable darkness
where our names are rent into spirit
we bless the splinters & the air
full of asphyxiations & amnesia
we bless our lacerations & our deformities

we bless the belligerent strangers
who stay on in our throats
long after forgotten festivities

as we learn the painful lessons of love
as we learn to respect the night’s sovereignty
& the slow stern wisdom of the desert
we bless the mysteries & the silence



Seitlhamo Motsapi (Poeta Sul-Africano, 1966- )

Biografia de Seitlhamo Motsapi


domingo, agosto 05, 2007

Kalungano - Sonho de Mãe negra



Foto: Mãe Cacau, Luís Lobo Henriques



Mãe negra
Embala o seu filho
E na sua cabeça negra
Coberta de cabelos negros
Ela guarda sonhos maravilhosos

Mãe negra
Embala o seu filho
E esquece
Que o milho já a terra secou
Que o amendoim ontem acabou

Ela sonha mundos maravilhosos
Onde o seu filho iria á escola
Á escola onde estudam os homens

Mãe negra
Embala o seu filho
E esquece
Os seus irmãos construindo vilas e cidades
Cimentando-as com o seu sangue

Ela sonha mundos maravilhosos
Onde o seu filho correria na estrada
Na estrada onde passam os homens

Mãe negra
Embala o seu filho
E escutando
A voz que vem de longe
Trazida pelos ventos
Ela sonha mundos maravilhosos
Mundos maravilhosos
Onde o seu filho poderá viver.



Kalungano (Pseudónimo de Marcelino dos Santos, poeta moçambicano)

Alda do Espírito Santo - Aqui, na areia



Foto: Alegria em ouro negro, Luís Lobo Henriques



Aqui, na areia,
Sentada à beira do cais da minha baía
do cais simbólico, dos fardos,
das malas e da chuva
caindo em torrente
sobre o cais desmantelado,
caindo em ruínas
eu queria ver à volta de mim,
nesta hora morna do entardecer
no mormaço tropical
desta terra de África
à beira do cais a desfazer-se em ruínas,
abrigados por um toldo movediço
uma legião de cabecinhas pequenas,
à roda de mim,
num voo magistral em torno do mundo
desenhando na areia
a senda de todos os destinos
pintando na grande tela da vida
uma história bela
para os homens de todas as terras
ciciando em coro, canções melodiosas
numa toada universal
num cortejo gigante de humana poesia
na mais bela de todas as lições
HUMANIDADE.



Alda do Espírito Santo (Poetisa de S. Tomé, 1926- )

domingo, novembro 26, 2006

Elis Regina - O Bêbado e a Equilibrista







Caía
A tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos

A lua
Tal qual a dona dum bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

E nuvens
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!

Louco,
O bêbado com chapéu côco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
Meu Brasil

Que sonha
Com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete

Chora a nossa pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses
No solo do Brasil

Mas sei
Que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança dança
Na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar

Azar
A esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar

João Bosco (Poeta e Músico brasileiro, 1946- ) e Aldir Blanc (Poeta e Músico brasileiro, 1946- )

domingo, agosto 20, 2006

Ary dos Santos - Fecham-se os dedos donde corre a esperança



Fecham-se os dedos donde corre a esperança


Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?

Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.

Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.

Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.


José Carlos Ary dos Santos (Poeta português, 1937-1984)




Foto: Me hand BW by Jahbuzz